7° ANO

Despedida do trema

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.

Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!... O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.

Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá.

Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa.

Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...

Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.

Adeus,

Trema.

1. Segundo sua leitura, quem está indo embora?
a) O trema.
b) O narrador.
c) O autor.
d) O eu-lírico.

2. Onde o trema esteve presente?
a) Em todas as palavras.
b) Em algumas palavras.
c) Nos trocadilhos.
d) ali.

3. “Mas os tempos mudaram”. O que propiciou para que os tempos mudassem?
a) O tempo que passa.
b) As invenções dos homens.
c) Os quatrocentos e cinqüenta anos que passaram.
d) A reforma ortográfica.

4. “Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...”. Esse fragmento demonstra:
a) A vontade do trema em continuar existindo.
b) Humor exposto no texto.
c) Uma linguagem complicada de se entender.
d) Um protesto esquisito.

5. Há humor presente no texto. Verifique-o.
a) Fui expulso pra sempre do dicionário.
b) Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
c) Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...
d) ...eu simplesmente tô fora.

6. “tem aquele obeso do O e o anoréxico do I”. O que é possível entender por OBESO e ANORÉXICO?

a) muito grande e muito magro.
b) muito grande e muito baixo.
c) muito gordo e muito magro.
d) muito gordo e muito baixo.

7. Como o trema e o ponto final poderiam fazer um bico de reticências? a) Juntos, formam reticências.
b) Criando um bico com pontos.
c) Tendo a reticências como filha, para dar-lhe bico.
d) Inventando uma nova pontuação.

8. “Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá.” Onde encontramos recorrentemente o uso dessas letras?
a) Nos livros.
b) Na Internet.
c) Nos textos.
d) No novo acordo ortográfico.

9. Por que o trema alega mudar-se para o alemão?
a) Porque no morro não há preconceito.
b) Porque todos sonham em ir para o estrangeiro.
c) Porque irá entrar na história.
d) Porque á uma língua que utiliza muito trema.

10. Conforme foi possível observar no texto, existem algumas marcas de oralidade, como:
a) Tô, pra, cagão, bico.
b) Obeso, anoréxico, vou-me.
c) Cagão, topete, velha.
d) Bico, celebridade, tal, moderninhos.